Radacos

SOBRE OVELHAS E OUTROS ANIMAIS

As ovelhas não se sabem ovelhas
Pastam
Reproduzem
E não se sabem ovelhas
Vão a tosa
Vão ao abate
E não se sabem ovelhas
Somente e tão somente
Quando vem o lobo
Se descobrem ovelhas.



"DIVA"

A grande aventura
É aprender a morrer
Todo dia.
Desta vez foi profundo.
O mais distante que posso voltar
Voce está lá.
Lembrei-me dos almoços aos domingos,
Das festas no rancho do lago,
Das viagens pela Anhanguera.
Quanta vida!
Seus pais (saudades), segurança  harmonia.
Seus irmãos, alegria e sonhos.
Suas irmãs, uma rimava com beleza
A outra comigo.
Seus filhos, meus irmãos...
Uma flor.
A vinda pra cidade não matou o campo.
O acolhimento, o café, o compadre, a benção.
O duro enfrentamento com a finitude.
Não foi superado, só agora.
Um dia lindo, de sol e chuva...

E voce se foi.

“VIOLÊNCIA”

QUALQUER DIA DESSES

PERCO A CABEÇA

BATO A SUA PORTA

ATIRO MEU AMOR

NA SUA CARA

E DEPOIS

NÃO ADIANTA

DIZER QUE O MUNDO

É VIOLENTO.



MEL E FÚRIA
(ou TSUNAMI)

Quando o corpo clama por você

Quando o mel engrossa o sangue

E a montanha derrama o mel

Sinto a terra tremer em suas entranhas

Sinto o mar invadir a terra.

Ali jazia um homem!

Tive inveja dele.

“VÍCIO”

Ontem joguei
Dados com as deusas
Dados de deusas
Deusas tabuleiro.

Rolam dados
Rolam deusas
Bendito vício.
Lá vem Júpiter...


“SENTIMENTOS"
                                         "Não faças poesia com o corpo..." C.D. Andrade.

Eu te desejo com os olhos 
Sua beleza me cativa
E me dá prazer.
Deixe a luz acesa!

Eu te desejo com os ouvidos
Sua voz me cura da otite
E me dá prazer.
Cante ao léu!

Eu te desejo com o nariz
Seu perfume me suscita
E me dá prazer.
Exale esse ópio!

Eu te desejo com a boca
"Seu ósculo me vivifica”
E me dá prazer.
Cospe seu néctar!

Eu te desejo com o corpo
Sua leveza me faz estourar
E me dá prazer.
Funde esses corpos!


"GAROTAS DE VITRINE”


Eu não sabia exatamente o que estava fazendo ali, mas procurava por algo que chamasse a minha atenção. Continuei a caminhar pela rua 24 de dezembro, até um pouco irritado, pois preferia estar em um lugar onde não estivesse tão quente.

Mas o calor tem seu lado bom (principalmente, para quem anda nas ruas...): as mulheres usam pouca roupa. Foi justamente esse fato que me chamou a atenção por algum tempo. 

No cruzamento da Paes Leme com a Quinze de Novembro duas garotas cruzam meu caminho. Uma estava de bermuda branca, com uma blusa cinza, que deixava aparecer o umbigo; a outra de minissaia estampada e blusa amarela. Ambas ressaltavam os seus melhores traços e sua feminilidade. Chamavam a minha atenção (não só a minha...) não por motivos da sociologia urbana ou da psicologia social, mas por motivos óbvios.


Como eu não tinha pressa, resolvi acompanhá-las discretamente. Tentei imaginar para onde poderiam estar indo as duas servas de Afrodite. Estavam indo as compras, uma vez que entravam e saiam de várias lojas (sapatos, roupas, perfumes...). quando não entravam ficavam olhando e comentando o que estava exposto na vitrine.

Já havia perdido a noção do tempo, quando percebi que estávamos descendo a Nove de Julho, pensei que iriam embora, pois estavam rumo ao terminal. Qual foi minha surpresa vê-las entrando na Galeria Atenas, onde repetiram o ritual de olharem as vitrines e nada comprarem. 

Após algumas visitas delas percebi que a galeria não tinha o mesmo anonimato que a rua...Segui o meu caminho.

Apesar de não tê-las acompanhado até o fim do seu passeio, percebi que de fato não estavam às compras. Tratava-se apenas de garotas que faziam visitas às vitrines – e estavam, também, na vitrine. E aquele sábado ensolarado da antiga Alto Cafezal torna irresistível uma cerveja.

“ESTRELA GUIA”


Naquela noite

Acampados...

Você e eu

Falamos de coisas que

Eu não disse ainda não

Vi estrelas!

Você a maior delas

Apontava um horizonte

Pensei em segui-la

Mas, amanheceu

E a luz do Sol

Fez o que faz com as estrelas

Sabemos que estão lá

Não conseguimos vê-las.

Estou perdido!
 


TROMBADINHA
 
Por que eu tenho sempre


Que parar quando voce

Desponta no meio da multidão?

Por que voce não pára quando eu

Desponto na multidão?

Você nunca fez um gesto para

Chamar a minha atenção

Vivo tentando chamar a sua

A multidão não existe

Você é única

Eu a multidão.

Vou bater a sua carteira!



“TATI”


Ontem à tarde
Bebendo na taberna
Pensei que tinha talento
Para uma tirada

Lembrei você em tafetá

Com aquela taça


Ao olhar tácito
Ouvia o tique-taque

E você tarântula
Fez uma tatuagem
Ah! Se talvez
Eu fosse titã.


CÁRCERE

Eu aqui deitado


Nessa escuridão


E você minha estrela
Tão longe e tão alta Brilha com intensidade

Através da janela Que não posso atingir
Convida-me para o infinito Para a liberdade

E eu não resistindo Grito...